Ninguém ouviu suas lágrimas; o coração é uma fonte de águas chorosas que não fazem barulho no mundo.
Edward Dahlberg
O pior remédio para o medo é eleger a segurança como medida da vida. Quanto mais você se protege, mais alimenta os fantasmas.
Maria Rita Kehl
A obra busca, na investigação de questões pessoais, dar visibilidade à fragilidade e intensidade ocultas no cotidiano.
O ambiente construído propõe um mergulho em um espaço íntimo, com projeções do corpo, de frases e do mar – que bate no limite imposto por uma parede na praia. A paisagem sonora, que remete às ondas do mar, abre espaço para o silêncio interno no espectador, convidando-o a se aproximar das questões humanas levantadas.
A fragilidade do indivíduo não reside em seus erros e fraquezas – inerentes à sua condição -, mas na sua tentativa de escondê-los. O medo, perante sua própria humanidade, ensinou ao Homem contemporâneo maneiras de escapar de si mesmo: fingir entusiasmo (estar bem e se divertir tornou-se imposição); disfarçar sua natureza instável e transitória (no uso indiscriminado de silicone, operações plásticas, remédios e drogas – para dormir, manter acordado, fazer sexo sem desejo etc.); e rejeitar as dificuldades de si e do outro (esquecendo que a compaixão, generosidade e perdão são necessários para a superação de problemas tanto pessoais como sociais).
O corpo, que começou a ganhar voz com Nietzsche (após séculos de subordinação), agora se cala coagido pela força do medo de sua própria natureza: insegura e arrogante ao mesmo tempo.
Dar voz ao corpo é redescobri-lo em sua particular existência, revelando seu próprio ânimo (volúvel); é valorizar o pequeno (e complexo) mundo que nele (e dele) se faz vida.